Aqui no blog o Carnaval ainda não acabou!
Todo mundo sabe o que é um SAMBA-ENREDO ou, ao menos finge saber.
Samba-enredo é um dos inúmeros gêneros do samba. Os compositores, que são escolhidos entre vários na quadra da escola, esmeram-se para cantar da melhor forma o tema que a escola de samba escolheu naquele ano. E é feito para ser tocado ao vivo, com refrões fortes que possam ser memorizados e cantados pela galera.
A grande maioria dos sambas-enredos cai no esquecimento assim que as brigas durante a apuração ganham as manchetes.
Mas alguns ficam, muito porque são grandes canções, mas também (ou principalmente) porque foram regravadas por grandes nomes da nossa música popular. E alguns dos nossos maiores compositores já fizeram seus sambas como se eles fossem ser executados na avenida.
Aqui vão três sambas-enredo que se tornaram clássicos.
1) É HOJE
A gravação de Caetano Veloso de 1983 no disco “Uns” é tão conhecida que parece que foi ele que fez. Mas na realidade este samba foi composto pela dupla Didi e Mestrinho para o desfile da escola União da Ilha em 1982.
Parece brincadeira… mesmo com um samba tão bom a União da Ilha ficou em quinto lugar.
Mas tudo bem, a música continua espetacular e a escola perdeu para a Império Serrano e seu inesquecível “Bum-bum paticumbum prugurundum”.
2) LENDA DAS SEREIAS, RAINHA DO MAR
Marisa Monte, no seu disco de estréia “MM” veio com a proposta de uma estudiosa da música brasileira, resgatando e dando nova forma à canções antigas.
Uma das canções foi esse antológico samba-enredo de 1976 da Império Serrano (olha aí ela de novo), com elementos das tradições negras e um belíssimo refrão.
Nesse ano a vitoriosa também não foi a Império.
3) O AMANHÃ
A União da Ilha (outra vez!) desfilou pela Sapucaí em 1978 com esse delicioso samba-enredo muito otimista sobre o futuro.
Em 1983 a cantora Simone gravou essa música no seu disco Delírios e Delícias que virou hit instantâneo e até hoje está no repertório de seus shows.
Aqui vai Simone e seu amanhã encerrando um especial na Globo em 1983 na Globo.
Reparem como ela engasga com um confete no início da música! E termina pedindo eleições diretas, que só viriam a acontecer seis anos depois…
E três sambas-enredo que já nasceram clássicos.
1) VAI PASSAR
O ano era 1984 e finalmente a censura do regime militar sobre as manifestações artísticas começava a abrandar. Chico Buarque já tinha experimentado cantar letras de protesto embaladas em muitas metáforas para fugir da censura e, agora, ele começava a ser mais explícito.
“Vai Passar” é um samba-enredo com todas suas características, que canta sobre um Brasil feito por escravos para brancos decadentes que, no Carnaval, poderiam se divertir numa “alegria fugaz”. Há uma esperança na letra quando ele fala “vem cantar a evolução da liberdade”.
Lamentavelmente, 30 anos depois, a nossa pátria mãe que ainda dorme tão distraída continua sendo “subtraída em tenebrosas transações”.
2) O MESTRE-SALA DOS MARES
João Bosco e seu colega de composições, Aldir Blanc, penaram para aprovar a letra desse samba que homenageia o “Almirante Negro” João Candido, o líder da Revolta da Chibata, que parou a marinha brasileira em 1910. Naquela época, mesmo sendo proibida, a população da marinha do Brasil, 90% negra e parda, era punida com chibatadas.
João Cândido, por aclamação entre os seus liderados, toma de assalto toda uma esquadra e exige o fim das chibatadas. João foi expulso da marinha, preso e passou por muitas perseguições e privações até o fim de sua vida em 1969.
Mas sua história continua na música do outro João, que lhe homenageia e presta glórias nesse delicioso samba-enredo.
3) SAMBA ENREDO DA TRP
Nessa lista não podia faltar um toque nonsense.
Em 1985, o Língua de Trapo, banda da Vanguarda Paulistana do início da década de 1980, lançou seu segundo LP chamado “Como É Bom Ser Punk”. Uma das faixas era o “Samba Enredo da TRP”.
Obviamente censurada na época, a letra criticava de forma irônica e festiva a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição Família e Propriedade, a TFP e seu líder Plínio Correa de Oliveira, “Plinus”, na letra, era um baluarte da ditadura e um erudito que lia Mein Kampf de Hitler no banheiro.
A piada final ficava por conta da ficha técnica no encarte. Ponho uma foto do amarelado encarte do meu velho álbum aqui ao lado.
Essa ironia toda cairia muito bem hoje em dia…